Participar da comunidade

Fábricas del amor


E construí teu rosto. 

Com adivinhanças do amor, construía teu rosto 

nos longínquos quintais da infância. 

Pedreiro com vergonha, 

eu me ocultei do mundo para talhar tua imagem, 

para dar-te a voz, 

para pôr doçura em tua saliva. 

Quantas vezes tremi

coberto apenas pela luz do verão

enquanto te descrevia pelo meu sangue. 

Pura minha 

estás feita de quantas estações, 

e tua graça descende de quantos crepúsculos?

Quantas de minhas jornadas inventaram as tuas mãos?

Que infinidade de beijos contra a solidão

afunda teus passos no pó?

Eu te oficiei, te recitei pelos caminhos, 

escrevi todos os teus nomes no fundo da minha sombra, 

fiz para ti um lugar em meu leito, 

te amei, vestígio invisível, noite a noite. 

Assim foi que cantaram os silêncios. 

Anos e anos trabalhei para fazer-te 

antes de ouvir um único som da tua alma. 


[ Não tem nada para você aqui, vaza. ]